O Que Fazer Nordeste de Amaralina

A Festa da Pituba – Da Tradição à Extinção

Compartilhe nas mídias:

Se você viveu em Salvador ou já ouviu histórias da cidade, talvez tenha escutado falar da antiga e marcante Festa da Pituba, uma celebração que unia fé, tradição e comunidade em torno de Nossa Senhora da Luz, padroeira do bairro. Mas o que aconteceu com essa festa tão significativa? Vamos contar essa história seguindo os relatos e lembranças de quem viveu esse momento.

O Início: Fé e Comunidade

Tudo começava com uma alvorada, às quatro da manhã, marcada por foguetes e salvas de 21 tiros, anunciando o início das celebrações. Era o momento em que pescadores, vestidos como marinheiros, carregavam a imagem da santa por terra e mar, com uma procissão embalada por cânticos e pela alegria dos moradores.

As ruas da Pituba ganhavam um cenário especial. “Nós saíamos daqui 4h da manhã, com vassouras e folhas de nicurizeiro, indo buscar areia no Bico do Ferro”, relembra um antigo frequentador. Essa areia era espalhada pelas ruas como parte do ritual, remetendo aos tempos em que as vias ainda não eram asfaltadas. Assim, surgia a chamada “Passeata da Areia”, que simbolizava o cuidado e o respeito pelo espaço religioso.

Lavagem e Profano: Uma Mistura Singular

Além das procissões e novenas, o ponto alto era a Lavagem da Igreja de Nossa Senhora da Luz, organizada pelas baianas. “Não era trio elétrico, não! Era cortejo, com cavalo puxando carroça, muita gente animada, mas sempre com respeito.” Nesse encontro entre o sagrado e o popular, a festa trazia também as quermesses, onde barracas montadas ao redor da igreja arrecadavam fundos para ações sociais e caridade.

“Era algo feito pela comunidade, pelos pescadores, e que juntava o religioso com o profano. Tinha música, comida, bebida, e tudo isso feito de forma pacífica. Brigas eram raras, nunca vi alguém puxar uma faca ou arma. A gente brincava, se divertia, e à tardinha, todo mundo ia pra casa.”

O Apogeu da Festa

Até a década de 1990, a Festa da Pituba era referência em Salvador, competindo em popularidade com celebrações como as do Bonfim e do Rio Vermelho. Joventino Silva, importante figura da cidade, era o principal patrocinador e garantia que a festa tivesse estrutura e relevância. “Era a melhor festa de largo que tinha, sem dúvida!”, afirmou um morador que acompanhou o auge do evento.

As procissões, a música, as quermesses e o espírito de união faziam dessa celebração uma das mais aguardadas do ano. Para muitos, a festa não era só um evento religioso, mas um espaço de convivência comunitária e celebração da identidade local.

O Declínio: Da Tradição ao Silêncio

Com o tempo, mudanças começaram a surgir. O pároco da época, aliado às reclamações de moradores incomodados com o barulho, levou à transferência do evento para outro local, marcando o início do fim. A festa perdeu força, o apoio financeiro foi diminuindo, e a comunidade, que outrora era a alma do evento, passou a se afastar.

“Era muito bonita, mas foi decaindo. Hoje, as festas existem, mas não têm mais a procissão ou a mesma popularidade. Nunca mais ouvi falar disso.” O que antes unia os moradores da Pituba e arredores foi, pouco a pouco, sendo apagado, até que deixou de figurar no calendário oficial de Salvador.

A Reflexão: O Legado da Festa

O fim da Festa da Pituba é mais uma página na história das manifestações populares sufocadas pela urbanização e pelas mudanças sociais. Enquanto muitos lamentam o desaparecimento dessa tradição, fica a lembrança de um evento que simbolizava o melhor da convivência comunitária: fé, cultura e alegria.

E para você, qual o impacto dessas perdas na memória coletiva da nossa cidade? Compartilhe sua opinião, porque preservar a história é resistir ao apagamento!