Nos bastidores do Carnaval do Nordeste de Amaralina, uma nova ideia tem ganhado força: a criação de um circuito alternativo no Vale das Pedrinhas. A proposta visa expandir a festa e criar novos espaços para a cultura local. No entanto, será que faz sentido investir em um novo circuito quando o próprio Circuito Mestre Bimba ainda enfrenta graves problemas de negligência e falta de suporte?
O exemplo mais recente dessa precarização aconteceu no Sítio Caruano, um trecho que já faz parte do circuito oficial, mas que continua sendo ignorado na estrutura geral da festa. Enquanto os olhares estão voltados para a possibilidade de um novo espaço carnavalesco, áreas que já deveriam estar integradas ao circuito seguem abandonadas, sem infraestrutura e sem apoio real da organização do evento.
Eventos paralelos e a falta de valorização do circuito oficial
Em 2025, a situação no Sítio Caruano escancarou essa falta de suporte. A região, que deveria estar movimentada e integrada ao Carnaval oficial, ficou vazia durante boa parte da festa. Enquanto isso, produtores culturais com influência política trouxeram atrações para se apresentarem em eventos paralelos, com os trios parados, fugindo completamente da proposta do circuito tradicional.
O caso mais emblemático foi o show da banda Guetto é Guetto com Chiclete Ferreira, que realizou uma das maiores apresentações deste Carnaval sem sequer ter sido amplamente divulgada na programação oficial. Nossa equipe cobriu o evento exclusivamente, mas só soube da apresentação no dia em que ela aconteceu.

Isso levanta uma questão fundamental: se os próprios produtores culturais da comunidade precisam recorrer a eventos paralelos para garantir boas apresentações, como confiar que um novo circuito teria a estrutura necessária?
Um novo circuito ou uma nova desculpa para dividir o investimento?
A criação de um circuito alternativo pode parecer uma solução inovadora, mas também pode se tornar apenas mais uma forma de fragmentar os recursos sem resolver os problemas estruturais que já existem. O Circuito Mestre Bimba é oficial e reconhecido, mas sofre com a falta de suporte, tanto para artistas quanto para foliões.
Antes de pensar em uma nova expansão, é necessário garantir que o atual Carnaval funcione de forma digna para todos. Isso significa:
- Dar suporte para os espaços do circuito que já existem, como o Sítio Caruano, que segue invisibilizado pela organização.
- Garantir estrutura e apoio para os artistas locais, evitando que eles precisem de esquemas políticos para conseguir se apresentar.
- Reforçar a comunicação oficial do evento, para que atrações importantes não fiquem restritas a pequenos grupos e, sim, cheguem ao público geral.
- Evitar a fragmentação dos investimentos, garantindo que os recursos sejam bem distribuídos antes de se pensar em novos espaços carnavalescos.
O que esperar para os próximos anos?
Se a proposta de um circuito alternativo no Vale das Pedrinhas avançar, a grande preocupação será se a organização será capaz de aprender com os erros do Circuito Mestre Bimba. Afinal, de que adianta abrir um novo espaço se nem o atual é tratado com a importância que merece?
O Carnaval do Nordeste de Amaralina é resistência, cultura e identidade, mas precisa ser valorizado como tal. O primeiro passo para o crescimento da festa não é criar um novo circuito – é fortalecer o que já existe.