Não é segredo e muito menos novidade a realidade cruel que assombra os moradores do Nordeste de Amaralina. Ano após ano, somos empurrados para a margem de um sistema que nos trata como estatística, nos rotula e nos expõe apenas pelo viés da violência. E quando tentamos mudar essa narrativa, enfrentamos barreiras, repressões e distorções, até mesmo dentro da nossa própria comunidade.
Nos últimos tempos, nossas publicações – reais e impactantes – têm sido mal interpretadas. Algumas pessoas, por falta de compreensão ou interesse em encarar a verdade, tentam deslegitimar nosso trabalho, nossa ideologia e a importância da mídia comunitária como ferramenta de transformação. Mas aqui deixamos claro: jamais vamos nos calar!
Ter consciência crítica sobre o que acontece na nossa comunidade não é atacar o nosso próprio povo. Pelo contrário! É entendendo nossas fraquezas e denunciando o que nos prejudica que podemos, de fato, buscar mudanças reais. Se continuarmos ignorando a realidade, tragédias como as de Joel, Ryan Andrew, Marcus Vinícius, Marcos Italo, Marcelo, João Vitor, Micael e agora Dona Maria – uma moradora que viu essa comunidade nascer – seguirão se repetindo.
É preciso parar e refletir: por que, mesmo com tantas coisas boas acontecendo aqui, o Nordeste de Amaralina só ganha visibilidade quando o assunto é violência? Todos os anos, nossa comunidade estampa as manchetes policiais, mas nossos talentos, nossa cultura e nossa força raramente são reconhecidos. Isso não é um acaso, é um projeto!
A população do Nordeste precisa acordar, precisa entender que mudanças estruturais não acontecem com promessas vazias e candidatos que só aparecem em época de eleição. É hora de saber votar, de cobrar políticas públicas que realmente façam a diferença, de não se contentar com migalhas!
A transformação do nosso território não virá do dia para a noite. Mas ela só será possível com oportunidades e educação – não apenas no sentido escolar, mas também no acesso ao esporte, à capacitação profissional e à geração de emprego. Sem essas bases, continuaremos reféns do mesmo ciclo de sempre.
Olhem para Medellín, na Colômbia. Durante anos, a cidade carregou o peso de ser o maior polo do narcotráfico do mundo. Quem não conhece a história de Pablo Escobar e o impacto brutal que ele teve no país? Mas o que poucos falam é que, anos depois, Medelín se reinventou, se tornou um polo turístico e econômico, um exemplo de transformação urbana e social.
Se eles conseguiram, por que nós não podemos?
A mudança começa quando paramos de alimentar apenas a visão negativa da nossa realidade. Quando escolhemos fortalecer a nossa mídia comunitária, dar voz ao que realmente importa e mostrar que Nordeste de Amaralina é muito mais do que as páginas policiais querem fazer parecer.
A pergunta que fica é: de que lado você quer estar?