O Nordeste de Amaralina, a décima comunidade de Salvador em incidência de tiroteios no entorno de escolas, reflete uma das feridas mais profundas da desigualdade racial e social que assola a capital baiana. A violência armada, que atinge de forma desproporcional bairros com maioria negra, como o nosso, traz à tona questões históricas de negligência, exclusão e racismo estrutural.
De acordo com um estudo recente do Instituto Fogo Cruzado e da Iniciativa Negra por uma Nova Política de Drogas, entre julho de 2022 e agosto de 2024, 16 tiroteios ocorreram no Nordeste de Amaralina em um raio de até 300 metros das escolas durante dias e horários letivos. Esse dado coloca o bairro em um triste ranking que expõe uma dura realidade: os territórios de maioria negra sofrem mais com a insegurança, especialmente em espaços que deveriam ser de proteção e aprendizado para crianças e jovens.
O Peso da Cor e do Território
Os números não mentem. Em Salvador, onde a população negra compõe 79,48% da cidade, os bairros com maior concentração de negros enfrentam tiroteios frequentes em áreas escolares. Por outro lado, regiões de maioria branca, como Barra, Graça e Vitória, quase não registraram casos. Essa disparidade evidencia o impacto do racismo estrutural nas políticas de segurança e na distribuição de recursos públicos.
No Nordeste de Amaralina, a violência não é um fenômeno isolado. Ela se entrelaça com a falta de oportunidades, a precarização de serviços básicos e a ausência de políticas públicas efetivas. As escolas, que deveriam ser espaços de acolhimento e transformação social, acabam se tornando palco de traumas para os estudantes, professores e moradores.
A Resistência da Comunidade
Apesar de todo o cenário de violência, o Nordeste de Amaralina é também um território de resistência e luta. O bairro carrega uma rica história de cultura, fé e mobilização comunitária. Os dados alarmantes do estudo, por mais cruéis que sejam, também servem como um grito de alerta para a necessidade de mudanças estruturais urgentes.
Dudu Ribeiro, cofundador da Iniciativa Negra, destaca a urgência de políticas afirmativas e reparatórias que enfrentem esse massacre racial vivido nas periferias de Salvador. A proteção das crianças e jovens nas escolas deve ser prioridade, especialmente em bairros como o Nordeste de Amaralina, onde o risco é cotidiano.
Caminhos para o Futuro
Para além das críticas, é necessário pensar em soluções. Investir em educação de qualidade, espaços culturais, acesso à saúde e segurança cidadã são passos fundamentais. Além disso, a mobilização da comunidade é essencial para pressionar o poder público a implementar mudanças efetivas.
O Nordeste de Amaralina não pode ser reduzido a estatísticas de violência. Somos mais que números; somos uma comunidade vibrante, cheia de potencial e força. Precisamos nos unir, fortalecer nossa identidade e exigir o que é nosso por direito: viver sem medo, com dignidade e esperança.