O Que Fazer Nordeste de Amaralina

Nordeste Origens: Loko, O Protetor da Mata

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A história do Nordeste de Amaralina é repleta de mistérios e crenças que atravessam gerações, mantendo viva a memória de uma comunidade que sempre lutou para preservar suas raízes e tradições. Um dos relatos mais fascinantes é o de Loko, a árvore sagrada que se tornou um símbolo de resistência e proteção na região.

Dona Guilhermina, uma das moradoras mais antigas, já falecida, compartilhou a história de seu sogro, Manoel Nascimento. Ele era capataz da Fazenda Pituba, mas também pai de santo, com um terreiro localizado onde hoje está o Colégio Carlos Santana II. Nos anos 1950, quando Belmiro Silva, filho de Joventino Silva, iniciou o loteamento da área através da empresa imobiliária Pituba S.A., o temor de Joventino de perder toda a sua terra o levou a pedir ajuda a Manoel.

Atendendo ao pedido de Joventino, Manoel Nascimento realizou rituais de proteção, plantando uma gameleira sagrada, conhecida no candomblé como Loko, no limite da Fazenda Pituba com as Ubaranas. Loko, morada de Iroko, o orixá do tempo e do vento, foi consagrada a Exu, garantindo que aquela área ficasse protegida. Além disso, Manoel plantou uma mangueira, consagrada a um egum, espírito dos mortos, no local onde o Colégio Carlos Santana II faz limite com os prédios da Pituba. Outros rituais e plantas sagradas foram espalhados por Manoel na área que hoje constitui o Parque da Cidade, na época, o pomar da fazenda.

Colégio Carlos Santanna II, (Foto: Dener Dublack/OQueFazerN.A)

O que aconteceu a seguir foi algo que muitos na época consideraram milagroso. Mesmo com o avanço do loteamento e a pressão da especulação imobiliária, aquela área específica resistiu e não conseguiu ser vendida. Assim, parte dela se transformou em um complexo escolar, enquanto outra parte se tornou uma área de proteção ambiental – o Parque da Cidade.

O poder da árvore Loko foi testado quando, anos depois, durante uma tentativa de desapropriação na gestão do prefeito Dr. Nelson de Oliveira, tratores foram enviados para derrubar a árvore. No entanto, a força espiritual do Loko prevaleceu. Três tentativas foram feitas, mas todas falharam, com as máquinas quebrando ao tentar arrancar as raízes da árvore. Na primeira tentativa, um tratorista perdeu a vida quando a pá da máquina quebrou e o atingiu mortalmente.

As histórias em torno do Loko não param por aí. Durante a construção do colégio, muitos desastres ocorreram, envolvendo crianças que tentavam subir na árvore e acabavam caindo e morrendo. Essas tragédias só reforçaram a crença na força espiritual que protegia aquele espaço. Até hoje, moradores mais antigos como Dona Guilhermina continuam a seguir rituais de respeito ao Loko, garantindo que a proteção da mata seja mantida.

Colégio Polivalente de Amaralina II, (Foto: Dener Dublack/OQueFazerN.A)

No limite do Parque da Cidade, uma outra árvore foi plantada para continuar essa proteção. Conhecida como Loko-mirim, essa árvore é considerada ainda mais poderosa e perigosa que a original. Segundo Dona Guilhermina, ao sair da área onde a árvore está plantada, é necessário arrastar os pés três vezes, como se estivesse limpando os pés em um tapete, para garantir que nenhuma energia negativa o siga.

O legado de Manoel Nascimento e as histórias do Loko permanecem vivas na memória da comunidade do Nordeste de Amaralina. Esses relatos nos lembram da importância de respeitar as tradições e as forças ancestrais que moldaram a história dessa região.

Este é mais um capítulo do nosso quadro Nordeste Origens, onde resgatamos e contamos as histórias que formam a identidade cultural da nossa comunidade. Fique ligado para mais descobertas sobre as raízes e a história do nosso bairro.

Este é mais um capítulo do nosso quadro Nordeste Origens, onde resgatamos e contamos as histórias que formam a identidade cultural da nossa comunidade. Fique ligado para mais descobertas sobre as raízes e a história do nosso bairro.