Você sabia que o primeiro grande movimento político da nossa querida comunidade do Nordeste de Amaralina começou lá atrás, em 1957? Isso mesmo, foi em março daquele ano que três moradores visionários – Manoel Bonfim, Pedro Domience e Benedito, todos movidos por um forte senso de mudança – decidiram se unir em prol de algo maior. E olha, eles não mediram esforços para dar início ao que se tornaria um dos capítulos mais importantes da nossa história.
Manoel Bonfim, um funcionário público batalhador, e Pedro Domience, um universitário que trabalhava nos Correios e que tinha uma oratória de fazer qualquer um se arrepiar, se juntaram com um objetivo claro: lutar por melhores condições para o bairro. Naquela época, o Nordeste de Amaralina era um lugar extremamente carente. Faltava de tudo: escola, água, luz, saneamento básico… E foi essa realidade que motivou esse grupo a pensar numa solução que pudesse trazer dignidade para os moradores.
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O que eles fizeram? Criaram a Sociedade dos Moradores do Nordeste de Amaralina e Adjacências. A ideia era simples, mas poderosa: mobilizar a comunidade para lutar pelos direitos básicos junto aos poderes públicos. Eles organizaram tudo direitinho – escreveram o estatuto, convocaram os moradores para participar e, com a ajuda do finado Seu Ramalho, que cedeu uma casa velha para servir de sede, começaram a transformar sonhos em realidade.
Em pouco tempo, a Sociedade já estava em pleno funcionamento. E no dia 1º de julho de 1957, a diretoria foi empossada com festa e tudo mais. O grupo começou a atuar firme, e logo em 1958 conseguiram um feito incrível: implantaram três turnos de escola no bairro, uma conquista inédita para aquela época! E tudo isso foi construído com o suor e a colaboração voluntária dos moradores, que se uniram para erguer um salão comunitário de 48 metros quadrados. Um marco para o bairro.
Porém, como em muitas histórias de resistência, nem tudo foi fácil.
Veio o golpe militar de 1964, e a repressão não poupou nem a nossa sociedade. O Exército sufocou os movimentos populares, fechou escolas e organizações, e tomou todos os documentos da Sociedade. Pedro Domience, que sempre foi um líder à frente de seu tempo, foi fortemente perseguido. As pressões eram tantas que ele acabou, infelizmente, tirando a própria vida. Esse foi um dos momentos mais tristes da nossa história. Manoel Bonfim, outro pilar da luta, acabou deixando o bairro pouco tempo depois, desgostoso com tudo o que aconteceu.
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Mesmo após o Exército devolver os documentos da Sociedade, o estrago já estava feito. A organização já havia sido desmantelada, e os sonhos de mudança, que antes eram tão vivos, foram sufocados pela ditadura e pelo medo que se espalhou entre a população. Tentaram retomar as atividades, até organizaram uma liga de dominó para tentar manter o espírito de união, mas a chama da luta se apagou de vez após o fim do campeonato.
E assim, se encerrou um dos primeiros e mais importantes capítulos políticos do Nordeste de Amaralina. Mas a semente da resistência já havia sido plantada. O legado de Manoel Bonfim, Pedro Domience e todos aqueles que acreditaram em uma comunidade mais justa e próspera continua vivo. Eles nos mostraram que, mesmo em meio às dificuldades, a união e a luta organizada podem trazer grandes transformações.
Essa história é um exemplo claro de como o Nordeste de Amaralina sempre foi uma terra de resistência e luta. E, sem dúvida, continuaremos honrando essa memória, aprendendo com o passado e construindo um futuro melhor para as próximas gerações.
Referência: Livro Memórias da Região Nordeste de Amaralina – 2006
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