A história do Nordeste de Amaralina carrega marcas de uma divisão física que separa não apenas territórios, mas também histórias e perspectivas. Os muros que isolam a região da Pituba e do Itaigara remontam a um passado de transformações urbanas e disputas de espaço que ainda ressoam na memória coletiva. Hoje, no quadro Nordeste Origens, revisamos essa história que atravessa gerações.
No passado, a área que hoje conhecemos como o Parque da Cidade fazia parte da antiga Fazenda Pituba, um vasto terreno onde se cultivavam frutas como jacas, mangas e goiabas. Essa região, conhecida como Mata de Joventino, era um espaço de convivência com a natureza. Ali havia riachos e lagoas, onde muitos pescavam, nadavam e caçavam. A mata abrigava histórias mágicas e mitos que eram repassados de geração em geração, enquanto a convivência com os capangas que protegiam as terras da fazenda testava a coragem de quem se aventurava por ali.
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Joventino, proprietário da fazenda, era um homem de personalidade rígida, mas com um papel relevante para a comunidade. Além de ser um dos grandes apoiadores da tradicional Festa da Pituba, ele foi responsável por impedir o desmatamento total da área. Em 1975, Joventino doou uma parte da fazenda à prefeitura de Salvador, com a condição de que o terreno se tornasse uma área de preservação ambiental. Esse espaço é hoje o Parque da Cidade.
Com o tempo, no entanto, as transformações urbanas trouxeram novas barreiras. Durante a ocupação das margens do rio Camurujipe, que cortava a área, a prefeitura ergueu um muro na década de 1980. Esse muro separava o Nordeste de Amaralina da área nobre do Itaigara e da Pituba, marcando simbolicamente um espaço de exclusão. Antes disso, os moradores da região cruzavam livremente a mata, usando-a como passagem para trabalhar, vender ou simplesmente interagir com quem vivia do outro lado.
A urbanização e a poluição acabaram transformando os riachos em esgotos, e as lagoas desapareceram. Com o muro, a conexão foi interrompida. Por anos, moradores tentaram quebrar o obstáculo físico, mas apenas um portão foi instalado, permitindo a passagem de forma controlada.
Essa divisão física também consolidou um simbolismo social: enquanto a mata de Joventino guardava histórias de liberdade e convivência com a natureza, o muro representava uma barreira que restringia o acesso e o contato entre comunidades que antes dividiam um mesmo território.
Hoje, o Parque da Cidade é um espaço de lazer e convivência, mas as histórias da antiga Fazenda Pituba e da Mata de Joventino continuam vivas, guardadas na memória de quem cresceu à sombra dos muros e aprendeu a resistir às barreiras impostas.
A história do Nordeste de Amaralina não é apenas sobre divisão, mas também sobre resiliência e a força de uma comunidade que nunca deixou de preservar suas memórias e de lutar por seu espaço.
E você? Já atravessou esses muros ou conhece alguém que fez parte dessa história? Compartilhe conosco e ajude a manter viva a memória do Nordeste!