O réveillon em Salvador é marcado por dois grandes polos: Boca do Rio, com o famoso Festival da Virada, e Subúrbio Ferroviário, que recebe eventos menores, mas com infraestrutura considerável. No entanto, um dos bairros mais emblemáticos da cidade, Amaralina, permanece à margem desse circuito. Com um cenário paradisíaco e um histórico de ser um dos pontos turísticos mais importantes de Salvador, Amaralina assiste ao descaso de autoridades e à falta de investimentos que poderiam transformar seu réveillon em um grande atrativo cultural e econômico.
Turismo em Salvador: Dados em Crescimento
De acordo com o Observatório de Turismo de Salvador, a cidade tem registrado uma recuperação consistente no setor, mesmo diante de desafios globais como guerras, instabilidade econômica e mudanças climáticas. No terceiro trimestre de 2024, a taxa média de ocupação hoteleira na capital baiana alcançou 65,58%, um aumento de 6,5% em relação ao mesmo período de 2019, pré-pandemia.
Em agosto de 2024, por exemplo, a ocupação foi 7,4% superior ao mesmo mês em 2023, demonstrando a força da retomada turística. Esses dados refletem diretamente na economia local, com o mês de janeiro de 2024 registrando 348.081 diárias vendidas, o melhor índice dos últimos quatro anos.
Apesar desse cenário otimista, é notável a concentração de esforços e investimentos em áreas específicas da cidade, como a Boca do Rio, enquanto bairros como Amaralina, com enorme potencial turístico, são negligenciados.
Réveillon em Amaralina: Cultura e Potencial Ignorados
O Reveillon de Amaralina é um espetáculo à parte, organizado quase que exclusivamente pelos moradores. Barracas improvisadas, festas entre amigos e familiares, e a tradicional queima de fogos promovida pelo quartel e alguns estabelecimentos locais dão vida à celebração. Entretanto, a falta de infraestrutura, atrações musicais e apoio institucional deixam claro o descaso com um bairro que possui uma orla privilegiada e histórica.
Amaralina já foi um centro turístico vibrante, mas, atualmente, carece de investimentos que poderiam transformar seu Reveillon em um evento cultural de destaque. Shows com artistas locais, além de fomentar a economia criativa, poderiam resgatar a tradição cultural do bairro e atrair turistas que buscam experiências autênticas e fora do circuito principal.
Barreiras para os Moradores: Deslocamento e Insegurança
Além do descaso com Amaralina, é importante destacar as dificuldades enfrentadas pelos moradores da cidade quando precisam se deslocar para áreas como Boca do Rio. A insegurança relacionada à violência urbana e ao domínio de facções em algumas regiões da cidade faz com que muitos moradores, mesmo sem qualquer envolvimento com essas problemáticas, se sintam inseguros para sair de seus bairros em busca de lazer.
Quem vive em Salvador entende bem essa desconfiança e as barreiras geradas por esse contexto. O deslocamento, por si só, já é uma questão delicada, especialmente para aqueles que dependem do transporte público ou enfrentam longas distâncias. Essa realidade demonstra que Salvador não pode ser pensada apenas em dois extremos, deixando bairros como Amaralina à margem de políticas públicas e investimentos culturais.
Oportunidades Perdidas
A valorização do Réveillon de Amaralina não seria apenas uma questão de justiça cultural, mas também de estratégia econômica. Com o turismo em ascensão e números positivos para a cidade, investir em eventos locais traria retorno financeiro, inclusão social e maior diversidade na oferta turística de Salvador. Além disso, incentivar artistas locais e profissionais renomados da região contribuiria para fortalecer a identidade cultural do bairro e gerar oportunidades de emprego e renda para os moradores.
É fundamental que os gestores da cidade repensem essa realidade. Salvador não se resume à Boca do Rio, Barra e ao Subúrbio Ferroviário. A cidade é rica em bairros com histórias, culturas e potenciais únicos, como Amaralina. Valorizar esses espaços é criar uma cidade mais inclusiva, que atende tanto moradores quanto turistas.
O Reveillon de Amaralina, com investimentos adequados, poderia resgatar o protagonismo do bairro e oferecer aos moradores e visitantes uma experiência cultural rica, segura e acessível. A cidade ganha quando todos os seus bairros têm a chance de brilhar, e Amaralina merece essa oportunidade.
