O Que Fazer Nordeste de Amaralina

O Sonho Favelado que o Sistema Sabota Todos os Dias

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O sonho de todo morador da favela é simples: melhorar de vida. Mas esse sonho, por mais legítimo que seja, esbarra em muros altos demais. E não estamos falando só de muros físicos, mas das barreiras sociais, econômicas e políticas que isolam comunidades como o Nordeste de Amaralina do direito básico à dignidade.

A raiz do problema? Falta de estrutura e uma segurança pública que não protege.

O maior drama da nossa região e de muitas favelas de Salvador não é a presença da criminalidade, mas a ausência do Estado onde ele realmente importa: na educação, na cultura, no esporte, na geração de oportunidades. O que sobra, no lugar disso, é uma política de confronto mal conduzida, que trata a favela como campo de guerra.

Estamos presos num ciclo que parece não ter fim. Conflitos semanais, operações despreparadas e vidas inocentes ceifadas alimentam uma sensação de abandono e medo. Só quando a dor bate na porta, quando um vizinho, um filho, uma amiga vira estatística, é que muitos se dão conta da dimensão do problema.

O morador vive entre dois fogos: o poder do Estado e o poder paralelo.

A resposta que o Estado dá é sempre a mesma: mais tropa, mais armamento, mais operação. Mas isso não resolve. Repetem a mesma receita fracassada há décadas. O que falta é o que nunca existiu de forma concreta: políticas públicas sérias, continuidade em projetos sociais e investimento real em educação, lazer e formação profissional.

A sensação que temos é de revezamento do sofrimento.

Cada mês é um bairro diferente vivendo o caos. Hoje é aqui, amanhã é na Liberdade, depois é em Plataforma. E sempre com as mesmas desculpas, os mesmos discursos prontos, as mesmas culpas jogadas nas costas de quem mais sofre. “A favela merece, apoiam o errado”, dizem. Mas será mesmo? Qual foi a chance real de escolha que esse jovem teve? Onde estavam as oportunidades quando ele mais precisou?

O acesso à educação é raso, o lazer é quase inexistente e a cultura é sufocada.

Projetos sociais que deveriam transformar realidades acabam sendo pontuais ou abandonados. Cursos de formação para jovens são escassos, e o pouco que existe depende de gente que trabalha com o coração e não com apoio. As crianças que nascem hoje aqui, vão crescer com quais referências?

Salvador é capital do turismo, mas o turismo não chega na favela.

A cidade lucra com sua imagem lá fora, mas aqui dentro, nas quebradas, sobra é descaso. O potencial existe artístico, cultural, humano. Mas o sistema não deixa florescer. Educação de qualidade, oportunidades de geração de renda e políticas públicas que enxerguem a favela como parte da cidade e não como um problema poderiam mudar tudo.

Mas pra isso, é preciso mais do que promessas em período eleitoral. É preciso compromisso. E, principalmente, escutar quem vive essa realidade todos os dias.