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Quando a Burguesia e o Capitalismo Silenciam uma Cultura Popular por Falta de Diálogo.

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Em plena semana da Consciência Negra, a cultura do samba foi silenciada, e o Estado, mais uma vez, teve um enorme papel na desestruturação do espaço popular da Federação: São Lázaro.

O encerramento do tradicional Samba de São Lázaro, na Federação, escancarou uma problemática constante e recorrente em Salvador: a falta de valorização e, principalmente, o suporte estatal para as nossas manifestações culturais e populares.

O Samba de São Lázaro tornou-se um reduto de resistência cultural e socialização no período pós-pandêmico. Contudo, neste ano, enfrentou inúmeras restrições severas impostas por denúncias de moradores e, principalmente, pela intervenção estatal. A atuação do Estado na localidade se resumiu ao envio de viaturas para dispersar a população ao redor, enquanto nenhuma medida era tomada para garantir a segurança dos frequentadores.

Embora as reclamações sobre o barulho dos participantes sejam válidas e mereçam atenção, é evidente que a postura do Estado foi marcada pela repressão e não pela mediação. Após a notificação de um vereador de Salvador e reuniões com os organizadores do samba, decidiu-se reduzir o horário do evento para apenas duas horas. No entanto, em menos de uma semana dessa decisão, o samba foi encerrado definitivamente, sem que fossem oferecidas alternativas estruturais. Essa postura expôs o caráter coercitivo da ação estatal, ignorando o diálogo e a busca por soluções equilibradas.

O Estado demonstra, mais uma vez, que não se importa com a cultura local. São Lázaro era palco de grandes artistas, turistas, famosos e, principalmente, trabalhadores, evidenciando que o samba vai muito além de uma expressão artística. Ele é um espaço de convivência comunitária, um raro refúgio em uma cidade onde as opções acessíveis de lazer são limitadas. O Samba de São Lázaro simbolizava troca cultural, fortalecimento da identidade negra e integração entre diferentes classes sociais.

A decisão de encerrar o samba expõe as prioridades do Estado, que parece atender apenas interesses econômicos ou de setores específicos da população, em detrimento da cultura popular. A repressão ao samba foi rápida e eficaz, mas os problemas de segurança pública na região continuam sendo negligenciados. O contraste é gritante: viaturas deslocadas para reprimir o samba, enquanto faltam ações preventivas para proteger os moradores e visitantes contra furtos e roubos. Vale destacar que o samba era um ambiente de paz, marcado pela alegria, lazer e amor.

Essa postura não apenas sufoca as iniciativas culturais populares, como também demonstra a falta de empenho em organizá-las de forma adequada. A ausência de infraestrutura, como banheiros públicos, e a falta de mediação comunitária para dialogar com a população e os organizadores reforçam o desamparo. Soluções poderiam ser encontradas para minimizar os impactos sonoros do samba, que, ao andar poucos metros da área, já era quase imperceptível.

Com a aproximação do fim do ano, o impacto desse encerramento não será sentido apenas pelos frequentadores e pela cultura local, mas também pela economia informal. Os ambulantes, que dependiam do samba para sua sobrevivência, enfrentarão ainda mais precariedade e abandono.

A pergunta que fica é: como ficarão esses trabalhadores? Enfrentando já condições precárias e desamparo estatal, agora terão que lidar com a perda do espaço de trabalho que ajudaram a construir ao longo de três anos. Haverá planos de realocação? Algum tipo de compensação? A probabilidade é mínima. As famílias perderam não só suas fontes de renda, mas também o espaço que conquistaram com esforço, saindo de lá sem inclusão ou suporte.

O fim do samba não deveria significar o abandono de quem contribuiu para a vitalidade do evento. Como frequentadores, vimos como os ambulantes, organizadores e artistas desempenharam um papel essencial nessa experiência cultural e social. O Estado precisa reconhecer isso e implementar ações concretas para assegurar a continuidade dessas atividades. Sem esses trabalhadores, São Lázaro jamais teria alcançado a relevância e a representatividade social que fizeram do bairro da Federação uma tradição cultural nas sextas-feiras de Salvador.

É com imensa tristeza que nos despedimos dos bons momentos vividos em São Lázaro. Mas, com energias positivas, seguimos na esperança de que nossa cultura não seja definitivamente apagada.