O Que Fazer Nordeste de Amaralina

Romantização ou Realidade? O Nordeste de Amaralina e a Falácia das Comparações

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A verdade sobre o Nordeste de Amaralina, quando exposta, tem o poder de incomodar. Essa inquietação se traduz em discursos rasos que frequentemente rotulam as narrativas sobre a comunidade como uma tentativa de “romantizar a favela” ou “justificar invasões”. Mas será que essas críticas resistem a um olhar mais atento e profundo sobre a história e a realidade local?

Nos últimos anos, a discussão sobre o Nordeste de Amaralina, bairro periférico de Salvador, tem enfrentado uma abordagem superficial que insiste em comparar o bairro a regiões como a Pituba — área de classe média-alta da mesma cidade. A comparação não apenas desvia o foco dos verdadeiros problemas enfrentados pela comunidade, mas reforça um discurso discriminatório que pouco contribui para o debate.

A Comparação que Não Faz Sentido

Primeiramente, é fundamental reconhecer que a história da Pituba e do Nordeste de Amaralina estão profundamente interligadas. Embora suas trajetórias sejam distintas, ambos os bairros compartilham aspectos geográficos e históricos que evidenciam as desigualdades no crescimento de Salvador. Enquanto a Pituba foi concebida dentro de um plano urbano estruturado, contando com investimentos e infraestrutura desde o princípio, o Nordeste de Amaralina nasceu da resistência de seus moradores, que compraram lotes e ergueram seus lares com as próprias mãos, muitas vezes em terrenos ignorados pelo poder público.

Reduzir essa relação a uma comparação simplista entre os dois bairros, como se fossem rivais, é desconsiderar a complexidade de suas histórias. Não se trata de rivalidade, mas de realidades contrastantes, moldadas por décadas de escolhas estruturais e omissões políticas.

O Preconceito Disfarçado de Análise

Infelizmente, ao invés de enxergarem a riqueza cultural e histórica do Nordeste de Amaralina, muitos preferem rotular toda a comunidade como “invasão”. Esse termo, usado de maneira pejorativa, reduz décadas de histórias de vida e lutas por espaço à ideia de algo ilegítimo. Contudo, há provas concretas e documentadas que refutam essas afirmações, evidenciando que boa parte do bairro já é regularizada e reconhecida legalmente, além de estar profundamente enraizada no tecido histórico da cidade.

Essas narrativas de “invasão” nada mais são do que tentativas de deslegitimar uma comunidade por ser periférica. O preconceito estrutural e a exclusão social frequentemente alimentam esse discurso, colocando a periferia sempre no lugar de “problema” ao invés de reconhecer o potencial e a força de sua gente.

A Infraestrutura que Segrega

Quando se olha para as diferenças entre o Nordeste de Amaralina e a Pituba, o que salta aos olhos não é apenas a desigualdade, mas como ela foi perpetuada. Enquanto bairros como a Pituba recebem investimentos regulares em infraestrutura, saneamento e lazer, o Nordeste de Amaralina ainda luta por questões básicas. É essa realidade que deveria ser pauta das discussões, e não comparações que jogam luz sobre o privilégio de uns enquanto marginalizam outros.

É preciso entender que apontar essas diferenças não é “romantizar a favela”. É trazer à tona uma verdade que muitos se recusam a enxergar. É contar a história do Nordeste de Amaralina sem filtros, mostrando o impacto de anos de exclusão e ao mesmo tempo evidenciando a força cultural, artística e comunitária que fazem do bairro um lugar de resistência e transformação.

Rejeitando o Silenciamento

As críticas sobre “romantização” não passam de uma tentativa de silenciar vozes que narram suas próprias histórias e apontam a desigualdade estrutural de Salvador. A verdade incomoda porque escancara privilégios, mostra a ausência de políticas públicas consistentes e coloca frente a frente uma cidade dividida por um abismo social.

Contudo, o Nordeste de Amaralina não se cala. A comunidade continua criando, resistindo e rompendo barreiras. Se contar essa história com orgulho e luta é romantizar, então que seja: romantizemos o que, na verdade, é pura realidade — uma realidade moldada por coragem, persistência e um desejo genuíno de transformar o local onde se vive.

Em vez de rivalizar territórios ou aceitar discursos baseados em preconceitos, é hora de construir pontes, investir em igualdade e, acima de tudo, ouvir quem por tanto tempo foi ignorado. Essa é a verdade que assusta, e que, por isso, deve ser dita.